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Lígia Rosso

SEM SANDÁLIAS…meu texto clássico te convida a tirar os calçados

Este texto é um dos meus preferidos, o escrevi em 2005 e está publicado na minha primeira obra “Nas Entrelinhas” (2011). Apesar de falar em reflexões de final de ano, sempre digo que o texto ‘Sem sandálias’ é um para o ano todo. Te convido a tirar as sandálias ou os sapatos e te desejo uma boa leitura!

 

É engraçado como simples cenas do cotidiano podem se tornar tão significativas em questão de segundos, basta ficar em silêncio, numa atitude contemplativa, que passamos a perceber um mundo imperceptível para os nossos barulhos cotidianos. Foi num desses momentos, indo para casa após um dia exaustivo – desses que nos tiram o fôlego – sabe, quando dezembro chega e a gente não vê a hora de descansar?! Pois é, as aulas já estavam acabando, e as reflexões apenas começando…

Naquele dia, não fui à universidade, uma chuva intensa caía e queria me dizer alguma coisa, o entardecer foi dando lugar para uma noite nebulosa e no trajeto meus pensamentos estavam aflorados! Comecei a refletir sobre o novo ano e os velhos problemas diários, pois o ano no calendário trocaria seus números finais em questão de vinte e tantos dias, mas os problemas… Ah! Esses continuariam comigo, e já no primeiro dia de janeiro – não, não, talvez no segundo! – estariam lá, me esperando para serem resolvidos. Mesmo depois dos fogos de artifício, da ceia alegre com a família, dos abraços trocados, dos telefonemas dados e recebidos, mesmo com toda essa felicidade da renovação, os problemas continuariam lá. “Que chatos!” – pensei, e distraída pisei na poça d’água, molhei a roupa e fui tomada pela raiva…

Porém, antes de mencionar palavras duras – normais a qualquer mortal em momentos de irritação -, fui surpreendida pelos risos alegres de algumas crianças. Eram três meninas brincando nas poças d’água da calçada, elas pulavam felizes, molhavam seus pezinhos que estavam sem as delicadas sandálias, deixadas de lado sem o menor apego.

Elas eram livres, seus risos inundavam meus ouvidos e sacudiam minha alma! A chuva estava forte, e eu contemplava aquele instante tão especial totalmente fascinada. ‘Sem sandálias, elas vão ficar gripadas’ – pensei num primeiro momento, mas depois…’Sem sandálias, elas estão felizes,sem medo de viver, simplesmente vivendo!’. Mas, o que isso estava querendo me dizer?! Talvez que é preciso tirar as ‘sandálias’, sem medo de enfrentar as complicações diárias – as quais, cá entre nós, todo mundo tem as suas. Sem sandálias e sem neuras, sem besteiras, sem bobeira!

Até nos dias chuvosos, nebulosos, preparados para as tempestades, eu e você, caro leitor, podemos ficar com os pés e alma livres para viver tudo de melhor que vier, resolvendo problemas, sendo dono da cena, mesmo sem sandálias, entretanto, com mais paz no coração!

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