Sobre as Chegadas e Partidas
Estamos chegando e partindo o tempo todo...
Aprecio observar terminais rodoviários e aeroportos, gosto muito do movimento que envolve as chegadas e as partidas, as idas e vindas. É interessante ver os gestos de quem embarca e de quem fica, pois são tantos sentimentos misturados: ansiedades, esperanças, tristezas, alegrias, amor! Acima de tudo, o amor, esse expresso entre irmãos, familiares, amigos, namorados. Algumas vezes, uma lágrima escorre discreta no rosto de alguém na hora do “tchau”, ou é o pranto que não se encerra em si mesmo e se esvai.
Enquanto isso, as malas estão repletas de saudades ou de novos rumos, as esperanças se misturam com as roupas, a memória de quem parte e a nostalgia de quem fica — tudo isso ali, diante dos meus olhos, das minhas percepções mais íntimas. Vejo-me um pouco em cada pessoa que observo e dialogo com elas em silêncio, pois também sou saudades, recordações e esperas. Sempre digo que o nosso maior erro é a falsa sensação de eternidade: não damos o devido “até logo” para quem é especial em nossas vidas, não damos aquele abraço forte, não falamos o que nosso coração realmente sente (e esse conhece a verdade!), não celebramos a vida, com medo de sermos ridículos.
Estamos chegando e partindo o tempo todo, não somente quando vamos fazer uma viagem de ônibus, trem, avião, navio, enfim. Chegamos a nós mesmos e no outro quando decidimos abrir nossa mente e nosso ser interior para compartilharmos o que há de bom na vida. Nós chegamos naqueles recantos de nosso ser, quando assumimos quem realmente somos e aceitamos que pessoas amadas partirão dessa existência, mas jamais de nossos corações. Lá permanecerão vivas, como se nunca tivessem partido.
Se tivéssemos noção do quanto somos todos passageiros, amaríamos mais, sentiríamos mais intensamente a própria vida que pulsa em nosso interior. Se tivéssemos noção de que existir é estar sempre prestes a partir, jamais deixaríamos de expressar nossos sentimentos para quem gostamos pelo receio da rejeição ou da exposição. Entre chegadas e partidas, fica o convite para continuarmos essa viagem tão interessante que é viver!
OBS.: o programa Chegadas e Partidas (GNT) apresentado pela brilhante Astrid Fontenelle me inspirou muito para fazer este texto. Gratidão!